quinta-feira, 30 de junho de 2011

Os novos donos do minério

Publicada em 28/06/2011 às 00h08m
Danielle Nogueira (danielle.nogueira@oglobo.com.br)
RIO - A mudança no cenário internacional a partir da crise econômica global de 2008 está levando as siderúrgicas brasileiras a ampliarem seus investimentos em mineração. Com planos de autossuficiência na matéria-prima até 2015, empresas como Usiminas, Gerdau e AcelorMittal estão expandindo suas minas no Brasil. Mesmo a CSN, que já é autossuficiente, está reforçando investimentos na área. Juntas, as quatro vão destinar mais de US$ 12 bilhões nos próximos cinco anos à expansão da atividade mineradora. Por trás dessa estratégia estão esforços para cortar custos e buscar novas fontes de receita. O resultado é uma curiosa disputa concorrencial com a Vale, tradicional fornecedora de minério de ferro no país.
Essa inversão de papéis na cadeia produtiva do aço começou como um movimento defensivo. Com a crise de 2008, tanto os preços do minério de ferro como os de produtos siderúrgicos caíram no ano seguinte e se recuperaram em seguida, mas os ritmos de queda e de alta foram bem diferentes. Enquanto o preço médio da tonelada de minério de ferro exportada pelo Brasil caiu 15% em 2009, o preço médio da tonelada de laminados (tipo de produto siderúrgico) exportada despencou 38%. Em 2010, a discrepância se repetiu. As exportações de minério atingiram recorde, com salto de 86,7% no preço médio da tonelada. O preço médio da tonelada de laminados avançou apenas 13,7%.
Mas o que explica patamares tão diferentes de reajustes de itens da mesma cadeia produtiva? No caso do minério, a resposta vem da China, que mantém seu apetite voraz pela matéria-prima. No caso do aço, a retração das economias europeia e americana, após a crise de 2008, levou à redução no consumo de produtos siderúrgicos. O resultado foi uma sobreoferta que deve se manter até pelo menos 2012, diz a World Steel Association. Projeções da organização indicam capacidade ociosa para este ano de 532 milhões de toneladas de aço, ou 18 vezes o volume que o Brasil deve consumir em 2011.
Como o minério - junto ao carvão - representa cerca de 50% do custo do aço, as siderúrgicas se viram contra a parede e buscaram fornecimento próprio. A Usiminas foi às compras em 2008 e arrematou uma mina em Serra Azul (MG). Em 2010, atraiu um parceiro internacional, a japonesa Sumitomo, e criou a Mineração Usiminas. Hoje, a capacidade de produção da empresa é de sete milhões de toneladas, ou 40% de sua necessidade. A meta para 2015, quando pretende chegar à autossuficiência, é de 29 milhões de toneladas, o que demandará US$ 4 bilhões.
Leia a íntegra desta reportagem na edição desta terça-feira do Globo Digital (exclusivo para assinantes).

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/06/27/os-novos-donos-do-minerio-924781895.asp#ixzz1QYIXL7NW
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sábado, 25 de junho de 2011

Mineração sufoca e depreda patrimônio natural e histórico de MG


Exploração de minério modifica topografia do estado, depredando montanhas importantes como a da Moeda e da Piedade. Encardidas, cidades afetadas convivem com inchaço e pobreza

Zulmira Furbino - Estado de Minas
Publicação: 25/04/2010 08:17 Atualização: 25/04/2010 09:24

Os 12 Profetas, famosa obra de Aleijadinho, cercada por serras como a da Moeda. Mineração estraga um dos mais notórios cenários de Minas  - (Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Os 12 Profetas, famosa obra de Aleijadinho, cercada por serras como a da Moeda. Mineração estraga um dos mais notórios cenários de Minas

Se por um momento os 12 profetas de Aleijadinho, postados há mais dois séculos no adro da Basílica Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, no fim da Serra da Moeda, ganhassem vida e pudessem fazer um pedido, não seria improvável que quisessem ter os seus olhos vendados. As estátuas, parte de um conjunto histórico formado pela igreja e por 12 capelas que reconstituem os passos da Paixão de Cristo na cidade, reconhecido pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade, são testemunhas passivas da devastação do meio ambiente e do inchaço descontrolado de um município embaçados pelas nuvens de pó vermelho provenientes da exploração de minério de ferro. Mas eles não estão sozinhos. Se também ganhassem vida, as serras mineiras mostrariam um semblante tão ou mais angustiado do que os profetas de pedra sabão do mestre do barroco brasileiro.

Esburacadas como queijo suíço pela mineração, as serras da Moeda, do Itatiaiuçu, da Piedade, do Rola Moça, do Gandarela e da Ferrugem abrigam cidades encardidas (veja mapa e problemas das serras na página 17) .
Ao contrário da expectativa de melhoria de qualidade de vida, alimentada pelo anúncio de cifras bilionárias de investimentos, a maior parte das cidades que abrigam esse tipo de atividade continua pobre. Entre os 306 municípios mineradores no estado, apenas 40 concentram 80% da arrecadação com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Municípios como Jeceaba, na Região Central, vizinho de Congonhas, recebem R$ 20,58 ao ano a título de royalty do minério. No fim de 2009, um abaixo assinado por 600 habitantes da cidade protestava contra a construção de duas barragens de rejeitos no município. Elas integram o projeto da Ferrous, em Congonhas, para a produção de 15 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano.

Em fevereiro, a arrecadação total de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) em Minas Gerais foi de R$ 1,87 bilhão. A mineração ficou em 10º lugar, com R$ 7,2 milhões. A baixa arrecadação é fruto da exportação de minério bruto, que sai direto da mineradora para o porto, sem beneficiamento no estado. No primeiro trimestre, a extração de minério respondeu por 26,71% do total exportado pelo estado. No que diz respeito à criação de empregos, a situação não é muito mais animadora. Levantamento feito pela Fundação João Pinheiro (FJP) a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que em fevereiro deste ano a mineração respondia por 1,09% do total de empregos no estado. O dado não leva em conta os empregos indiretos da cadeia mineral.

Em muitos casos, além disso, a população mal vê a cor do dinheiro porque faltam políticas públicas adequadas e fiscalização na hora de aplicá-las. A expectativa de desenvolvimento rápido tropeça na falta de infra-estrutura básica para receber os investimentos do setor. O resultado são problemas de trânsito semelhantes aos das grandes metrópoles, aumento vultuoso da violência, chegada da prostituição, favelização, doenças, colapso no sistema de saúde, disparada dos preços dos aluguéis, destruição do patrimônio ambiental, histórico e artístico. Para não falar da mudança radical de sua vocação econômica. A situação tende a piorar ainda mais por causa da elevação da demanda pelo minério no mercado global, o que aumenta o apetite de empresas de capital nacional e internacional no segmento.

Em Congonhas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), única entre as grandes a ter capital exclusivamente nacional, vai investir R$ 9,5 bilhões na ampliação da produção da mina Casa de Pedra – de 16 milhões para 55 milhões de toneladas dentro de cinco anos –, na instalação de uma unidade de transformação do minério de ferro em pelotas de minério (pelotização) e na construção de uma nova siderúrgica. Em 2009, a população estimada da cidade eram de 48 mil habitantes, mas a expectativa é que irá dobrar de volume nos próximos cinco anos em razão dos investimentos anunciados. Estima-se que, hoje, os habitantes flutuantes do município já somam cerca de 15 mil pessoas.

Mineração em Morro Vermelho, Caeté - (Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Mineração em Morro Vermelho, Caeté
É entre 6h e 7h da manhã que um dos efeitos danosos do aumento populacional começa a se fazer sentir na cidade. “Nesse horário, é impossível trafegar na Avenida Júlia Kubitschek (a principal de Congonhas). Às 18h, quem chega gasta uma hora para percorrer um trecho de 2 quilômetros que vai do trevo ao centro ”, reclama Gualter Monteiro, dono da imobiliária Imgel e ex-prefeito da cidade por três mandatos. O disparate entre o valor anunciado dos investimentos e seus efeitos negativos para o município podem ser resumidos numa frase do promotor Luciano Badini, coordenador do centro de apoio do meio ambiente do Ministério Público Estadual. “Só a expansão da mina e a construção da planta de pelotização já são suficientes para transformar Congonhas numa nova Cubatão”, sustenta, referindo-se à cidade paulista que era símbolo de poluição.

Na chuva, lama.Na seca, poeira


A caminho de Belo Vale, também na Serra da Moeda, as montanhas estão entrecortadas por uma paisagem lunar devido à exploração do minério. Há cerca de dois anos, um trecho do rodovia 442, que liga a cidade à BR -040, foi assoreado pelos rejeitos de minério da empresa Minas do Itacolomi e a estrada foi interrompida. A construção de um desvio, de terra batida, não devolveu a normalidade ao trecho, por onde carretas e caminhões pesados trafegam incessantemente. Hoje, duas grandes mineradoras atuam na região Vale e CSN. Sem contar as de menor porte, que produzem minério para vender para as gigantes. A 442 é uma rodovia íngreme e cheia de curvas perigosas.

“Quando chove tem lama, quando está seco, tem muita poeira. As carretas de minério trafegam mal enlonadas. Isso quando há lona. E a maior parte dos carros que passam frequentemente por aqui têm os parabrisas trincados pelas pedrinhas de minério”, diz Glória Maia, da Associação do Patrimônio Histórico, Ambiental e Artístico de Belo Vale.

Em Caeté, na Serra do Gandarela, o projeto Apolo, da Vale, mexe com as expectativas da comunidade, principalmente por causa da perspectiva de desenvolvimento econômico. A cidade ficou marcada pela decadência, depois que a antiga Ferro Brasileira fechou as portas na cidade, no início dos anos 1990. Agora, o comércio já registra aumento de vendas como efeito da chegada da companhia. E no setor de serviços, alguns restaurantes comemoram o movimento maior por causa dos empregados das empreiteiras contratadas pela Vale. No restaurante Fogão a Lenha, de três meses para cá o movimento aumentou 40% e o número de pessoas atendidas nas firmas que prestam serviço à companhia aumentou de 300 para 500. Mas esse é só um lado da moeda.

“A empresa está chegando, mas Caeté, como todos os municípios do estado, não tem planejamento urbano ou rural”, diz Ademir Martins Bento, representante do Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté (Macaca). A cidade tem 40 mil habitantes e espera receber cerca de 4 mil trabalhadores indiretos durante a construção da planta da mina. “Isso pressiona os preços da moradia. Além disso, a estrutura de saúde em Caeté andou delicadíssima nos últimos anos. A Santa Casa está fecha não fecha.” De acordo com ele, o poder público municipal aposta na chegada da Vale como uma espécie de salvação. “Mas isso não está escrito no papel”, observa. (ZF)

Mariana: mina desativada da vale é arrendada

Publicada em 25-06-2011
Município não quer reativação.

LÍDIA REZENDE.



ALEXANDRE GUZANSHE/ARQUIVO DC
Com a forte demanda mundial pelo minério de ferro, pequenas, médias e grandes mineradoras têm intensificado projetos de extração em Minas Gerais
Com a forte demanda mundial pelo minério de ferro, pequenas, médias e grandes mineradoras têm intensificado projetos de extração em Minas Gerais
A Vale S/A confirmou ontem, por meio de nota da assessoria de imprensa, que está arrendando a mina Del Rey, desativada há mais de 20 anos, no município de Mariana (Região Central). A mineradora, que já deu início ao processo de licitação, prevê que a mina arrendada entre em operação a partir de 2014, gerando cerca de 300 novos empregos.

A companhia não divulgou a capacidade de produção da jazida, o valor previsto no processo de seleção da empresa arrendatária e os investimentos necessários para o reinício das atividades. A Vale informou apenas que a mina Del Rey estava paralisada em razão da estratégia adotada de manter seu foco em grandes operações e que o arrendamento não compromete o andamento dos demais projetos já anunciados em Minas Gerais.

Além disso, a mineradora esclarece que todas as atividades envolvidas na operação, incluindo a aquisição das licenças ambientais da mina, serão de responsabilidade da arrendatária. À Vale caberá apenas promover auditorias.

O processo de arrendamento da jazida é a estratégia que poderá livrar a Vale, pelo menos diretamente, de problemas para reativar a mina, já que a responsabilidade do empreendimento passa a ser da empresa que vencerá a licitação, segundo a mineradora.

O prefeito de Mariana, Geraldo Sales de Souza, já manifestou opinião contrária ao reinício das atividades na jazida em razão dos prejuízos sociais, históricos e ao meio ambiente do município. A mina Del Rey está localizada a menos de cinco quilômetros do centro histórico e a cerca de um quilômetro do Sítio Arqueológico do Gogô.


ALMG - Na quarta-feira passada, a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou uma audiência pública no município para tratar do assunto. Conforme a assessoria de imprensa da ALMG, o prefeito afirmou que a população realizará manifestações, fechará estradas e fará barricadas caso o empreendimento seja levado adiante. Políticos, moradores e líderes comunitários já organizaram um movimento, denominado Mariana Viva, para resistir ao projeto de mineração.

O requerimento para a audiência pública atendeu à solicitação da 1ª Secretária da Câmara Municipal de Mariana, vereadora Aída Ribeiro Anacleto. A vereadora manifestou preocupação com a contaminação dos mananciais e nascentes, com as comunidades próximas à mina, o sítio arqueológico e com o cinturão verde em torno da área, próxima a reservas florestais como o Parque Estadual do Itacolomi, o Caraça e a Estação Ecológica de Tripuí.

No final de abril, o promotor de Justiça Antônio Carlos de Oliveira instaurou inquérito civil público para apurar os possíveis danos ambientais, ao patrimônio histórico-cultural e à saúde da população. No entanto, segundo a ALMG, a Vale ainda não respondeu às indagações, alegando que o tema cabe à empresa arrendatária.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

COMO FUNCIONA A CFEM

Infográfico publicado no jornal O Tempo de 23/06/2011 - disponível em -http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=174749,OTE&busca=min%E9rio&pagina=1

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O MINÉRIO TEM QUE SER NOSSO


Diante de “boom” do setor mineral no Brasil e no Mundo, e de iniciativas do governo Federal para aprovar um “Novo Marco Regulatório da Mineração”, PSTU junto com outros partidos de esquerda, sindicatos, movimentos sociais e ambientais lançam campanha em defesa das nossas riquezas

*Por Hermano Melo – da Direção Estadual do PSTU-MG. Matéria publicada no jornal Opinião Socialista.

O “boom” da Mineração no Brasil e no Mundo

A Mineração está vivendo um verdadeiro “boom” no Brasil e no mundo. A demanda por minério de ferro vem crescendo significativamente desde 2003, baseada principalmente no crescimento econômico da China.

A produção global chegou ao patamar de 2,4 bilhões de toneladas, sendo a China o maior produtor mundial, com 600 milhões de toneladas/ano e também o maior consumidor, chegando sozinha a 1 bilhão de toneladas/ano.

O Brasil é o segundo produtor mundial de minério de ferro, produzindo 370 milhões de toneladas/ano¹. Os principais estados produtores são Minas Gerais (71%) e Pará (26%), que juntos respondem por 97% do minério de ferro do Brasil. O plano do governo e das empresas é triplicar a produção atual nos próximos 20 anos, chegando a 1 bilhão de toneladas até 2030!
Portanto, o que aconteceu nos últimos anos, foi que o Brasil passou a se especializar como um dos maiores exportadores mundiais de commmodities, principalmente agronegócio e minério de ferro. Mais de 80% o de todo o minério brasileiro é exportado sem agregação de valor.

As consequências disso são desastrosas para o Brasil, pois o país se tornou completamente dependente da China e demais países importadores. Qualquer crise nestes países, terá efeito imediato no Brasil. 
 
Este papel dependente no mercado mundial, está gerando vários problemas no Brasil: a reprimarização da economia brasileira, onde a indústria de ponta perde peso para os bens primários; um déficit na balança comercial, pois exportamos minério de ferro de baixo valor agregado (US$ 138 a tonelada) e importamos produtos manufaturados mais caros; deixamos de gerar empregos no Brasil, pois a extração mineral gera menos empregos do que a siderurgia e outros setores industriais.

O impacto social e ambiental da mineração: o lado que os jornais não divulgam

O governo e a imprensa oficial brasileira gostam de vender a mineração como um negócio que está ajudando a construir um “ciclo virtuoso de crescimento e desenvolvimento” no Brasil. O que eles não dizem, são os custos disso.

A mineração é uma atividade de alto impacto social, trabalhista e ambiental. Quando a mineração se instala em uma cidade, as consequências são imediatas. A população aumenta desordenadamente, com trabalhadores atraídos pela ilusão do emprego fácil. Os problemas de transporte, moradia, educação e saúde pública aumentam, pois o sistema não comporta tal expansão. A cidade se torna dependente das mineradoras, que passam a determinar os rumos da política local.

Os trabalhadores da mineração, são o segredo dos altos lucros das empresas. O salário é baixo (em média R$ 1.400 na Vale); o ritmo de trabalho e as metas são intensas, com uma média de 32 viagens de carregamento de minério por trabalhador, a cada 6h; o setor é o 1º lugar em acidentes de trabalho e todos os anos acontecem acidentes fatais.

O Impacto ambiental é violento. A mineração polui o ar, devido à poeira em suspensão, que causa sujeira e doenças respiratórias; destrói serras e matas, pois as minas a céu aberto precisam desmatar a vegetação existente e recortar o perfil das serras; e mata as nascentes de água, pois utiliza muita água, rebaixando os lençóis freáticos

Vale, CSN e MMX: quem ganha com este modelo são as grandes empresas

Mas se este modelo é tão nocivo para o Brasil, por que ele vem sendo mantido e intensificado? A chave desta questão está na dominação das grandes empresas sobre o setor mineral.

Apesar do baixo valor agregado ao minério de ferro, este negócio é altamente lucrativo para as empresas, gerando um alto retorno, maior até do que os bancos.

O Mercado brasileiro é dominado pela Vale (79%), CSN (7,4%) e Anglo American/MMX (3%), que juntas detêm 90% da produção nacional.

A Vale é maior produtora de minério de ferro do mundo, com 119 mil funcionários e presença em 38 países. Ela produz 300 milhões de toneladas/ano, extraindo o minério a um custo de US$20, e vendendo a US$ 190. O retorno médio do investimento da empresa é de 47% (!), chegando a um lucro recorde de R$ 30 bilhões em 2010. Os números das demais empresas, apesar de menos exuberantes, refletem a mesma realidade: a alta lucratividade da atividade mineral.

Além dos altos lucros, as empresas pagam poucos impostos e têm relações íntimas com os governos. Os Royalties sobre a mineração (CFEM) são de apenas 2% sobre o lucro líquido, quando os do Petróleo são de 10%. A mineração é isenta de ICMS sobre a exportação, instituída pela chamada “Lei kandir”. Mesmo assim, a Vale deve R$ 5 bilhões ao governo, já que não paga o imposto desde 2001.

Por fim, as mineradoras são grandes financiadoras das campanhas eleitorais, e em troca conseguem isenções fiscais e vista grossa dos órgãos ambientais, que concedem licenças de funcionamento irresponsáveis e ilegais.


O Novo Marco Regulatório da Mineração

De olho no crescimento da mineração, o governo pretende aprovar ainda este ano um Novo Marco Regulatório do setor.

No discurso, o governo afirma querer mais controle sobre a atividade mineral, aumento dos Royalties e mais investimentos no mercado interno, o que segundo ele permitirá agregação de valor ao minério, bem como fiscalização das empresas para que se preocupem mais com a saúde e segurança nas minas e com o meio ambiente. O problema é que o modelo proposto pelo governo não garante estes objetivos aparentemente tão nobres.

O Projeto propõe o aumento dos Royalties de 2% para 4%, continuando a isenção do ICMS sobre exportação, o que é muito pouco para uma atividade tão lucrativa, um verdadeiro absurdo. Além disso, o governo não propõe nenhuma destinação social e ambiental para este dinheiro, deixando o caminho livre para o desvio de recursos.

O projeto propõe ainda uma expansão vertiginosa da mineração, baseada no mercado interno. Os problemas relacionados a isso são evidentes: vão aumentar os problemas de saúde e segurança dos trabalhadores, com aumento do ritmo de trabalho, mais acidentes e mais mortes; vai aumentar a degradação ambiental, com mineração na região amazônica, em terras indígenas, em faixas de fronteira e em reservas ambientais, como a Serra do Gandarela e a Serra Casa de Pedra em Minas Gerais e a Serra de Carajás, no Pará.

Outro objetivo do projeto é atrair mais empresas e investimentos para o setor. Isso já está gerando uma verdadeira “corrida do ouro” no Brasil, com expansão da mineração no Norte de Minas, através de empresas chinesas, a expansão da CSN em Congonhas, o mega projeto de Vale em Carajás, no Pará; a instalação da AngloGold em Conceição do Mato Dentro-MG e da CSA no Rio de Janeiro.

Por fim, o projeto prevê que o setor será dirigido por uma Agência Reguladora que terá o poder de outorga dos direitos minerários, seguindo os modelos das telecomunicações e da energia elétrica. O resultado deste modelo já é conhecido: aumento das tarifas de energia e telefonia e privatização total dos setores. Na mineração, isso significará colocar o controle do setor diretamente nas mãos das empresas.

A Campanha “O Minério tem que ser Nosso”

Por todos estes motivos, o PSTU junto com outras organizações está lançando uma campanha nacional para discutir um novo modelo para a mineração no Brasil.

Um importante instrumento da campanha será a apresentação de Projetos de Lei dos Royalties, tanto no Congresso Nacional, quanto nas Assembléias Legislativas de Minas Gerais, do Pará e outros estados mineradores.

Seguem abaixo algumas das principais bandeiras desta campanha:

1) Aumento dos Royalties para 10%
Defendemos o aumento dos Royalties para 10% do faturamento bruto das empresas e a Cobrança de ICMS sobre exportação (fim da lei Kandir). Deve ser obrigatório que estes recursos sejam investidos em saúde pública, educação pública, moradia popular e preservação ambiental. Deve ser criado um fundo controlado pelos trabalhadores e população através de suas entidades representativas que decida sobre a aplicação dos recursos, devendo ser estendido aos municípios atingidos pela Mineração, e não apenas aos municípios produtores. Definição de mecanismos efetivos de fiscalização, controle e punição para combater a sonegação fiscal. Fim do financiamento público subsidiado às mineradoras.

2) Defesa dos Direitos dos trabalhadores
Cumprimento rigoroso das normas de saúde e segurança dos trabalhadores, com fiscalização e penalidades previstas no próprio marco regulatório; fim das terceirizações; fim das metas de produtividade; extensão dos direitos de organização de base e representação sindical; ampliação dos direitos das mulheres trabalhadoras; Aumento salarial progressivo até alcançar 10% do faturamento das grandes empresas; PLR de 8% sobre o Lucro Líquido, com incorporação ao salário base.

3) Defesa do Meio Ambiente e Municípios Mineradores
Proibição da mineração em áreas de preservação ambiental (matas, nascentes e outras); todo novo empreendimento só poderá funcionar com consulta prévia efetiva da população atingida (plebiscito); luta contra remoção de comunidades atingidas e contra a criminalização dos movimentos sociais que atuam na mineração; nas áreas em operação, empresas devem ser responsáveis por medidas que evitem a poluição ambiental e recuperação das regiões mineradas;

4) Reestatização da Vale, CSN e Usiminas
Defesa de uma Política de Agregação de Valor ao minério no Brasil. Mineradoras devem ser obrigadas a investir em siderurgia, na indústria de transformação, nas vendas mercado interno, em desenvolvimento tecnológico. Defendemos ainda que todos os insumos usados na mineração sejam adquiridos 40% nos municípios mineradores, 80% nos estados mineradores e 100% no Brasil. Mas não queremos que este processo seja direcionado para benefício das empresas privadas nacionais e multinacionais, mas sim para benefício dos trabalhadores e população. Para isso, é necessário fortalecer a luta pela Reestatização da Vale, CSN, Usiminas e demais empresas privatizadas, e defender um modelo de exploração mineral que cumpra função social, do contrário este desenvolvimento não servirá para melhorar a nossa vida e desenvolver o Brasil.

  1. Realização de um Plebiscito Oficial
A Mineração é assunto estratégico, pois trata da exploração de nosso subsolo, assunto que tem a ver com a defesa da Soberania Nacional. Por isso, defendemos a realização de um Plebiscito Oficial em todo o país, como condição para aprovação de qualquer marco regulatório e Projeto de Lei de Royalties. Além disso, defendemos que todas as discussões sejam feitas de forma pública, através de consulta às entidades e movimentos sociais representativos dos trabalhadores e população atingida pela mineração. Qualquer órgão criado deve ter seus membros eleitos de forma direta e com representação dos trabalhadores e da comunidade.


¹http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201101241507_RTR_1295881405nN24177854


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Termina a greve na CSN, trabalhadores saem vitoriosos

Nota do Sindicato Metabase Inconfidentes

Nesta quarta-feira, dia 1 de junho, foi suspensa a greve dos 2500 trabalhadores da mina Casa de Pedra da CSN, em Congonhas (MG). Após cinco dias de uma forte greve, a CSN apresentou uma nova proposta aos trabalhadores, a qual será levada à assembléia geral da categoria nesta sexta-feira (03/06). 

O acordo apresentado prevê 8,3% de aumento salarial retroativo a maio, R$ 250 no Cartão Alimentação, R$ 300 de abono, não desconto dos dias parados, estabilidade de 90 dias para os grevistas, nenhuma punição aos trabalhadores. Na opinião do sindicato o acordo foi insuficiente, mas representou um avanço em relação à última proposta. 

Greve histórica

A greve dos trabalhadores mineiros da CSN teve um significado histórico. As últimas greves do setor mineral no país datam da década de 80. Ao cruzarem os braços por cinco dias, enfrentando a brutal repressão da empresa e da polícia, os funcionários da CSN abriram um novo caminho para os trabalhadores da mineração. “A partir de agora a palavra “greve” ecoará por todas as minas do Brasil e incendiará a campanha salarial da Vale no segundo semestre” afirma Valério Vieira, presidente do sindicato. 

Greve derrota a CSN

A CSN, buscando derrotar a greve, apelou para a violência física e psicológica sobre seus trabalhadores. Seu único objetivo era, através da truculência e brutalidade, destruir pela força o movimento.
Primeiro, a empresa fez ameaças dizendo que ia “cortar todos os benefícios” dos trabalhadores. Depois, contratou “bate-paus” e “capangas” armados para amedrontar a categoria. 

Não satisfeita, a CSN deixou em cárcere privado dezenas de trabalhadores no interior da mina, que foram obrigados a trabalhador mais de 24H seguidas. Não conseguindo quebrar a greve que estava muito forte, conseguiu na calada da noite uma liminar “fantasma” que impediu os piquetes de esclarecimento.

Ainda desesperada com a força da greve que comprometia a produção, a empresa partiu para as ameaças de demissões, assediando os funcionários e suas famílias. “A CSN extrapolou todos os limites e nos relembrou os piores momentos da Ditadura Militar, em que eram proibidos o direito de greve e a livre organização dos trabalhadores” explica Efraim Moura, coordenador das negociações pelo sindicato. 

Mas não foi suficiente a violência. A greve já havia conquistado os corações e mentes dos trabalhadores e foi além, conseguiu o apoio e a solidariedade ativa de toda a sociedade. Moradores, aposentados, estudantes, professores, enfim, a população ficou do lado da greve. A igreja da cidade, os vereadores, as associações de moradores também estavam pela greve. 

Ao final, a CSN se viu isolada e odiada pelo conjunto dos trabalhadores e pelo povo. A derrota - política e moral - da empresa foi categórica. “Da cidade de onde retiram a riqueza e deixam os buracos e a destruição, a empresa sentiu somente o repúdio e a indignação. A luta econômica tornou-se política. A CSN terá dias difíceis pela frente. Essa luta que começou pelos salários, agora é também pelo controle da riqueza produzida, o povo e os trabalhadores sabem: o minério tem que ser nosso! A luta só começou...”, afirma Valério Vieira, presidente do sindicato Metabase Inconfidentes, que é filiado a Central Sindical CSP-Conlutas.

Próximos passos

O sindicato Metabase acredita que a greve foi apenas o início de uma importante e longa luta contra a exploração e ganância da CSN. Por isso, encaminhará as seguintes propostas:
  1. Sindicato fará uma grande assembléia para discutir com os trabalhadores as lições da greve e aprovar a proposta de acordo dia 3 junho (sexta-feira).
  1. O sindicato vai iniciar, em conjunto com a sociedade civil organizada, uma campanha em defesa de Congonhas com o lema "O Minério tem que ser Nosso".
  1. O Metabase vai entrar com uma representação no ministério público, na comissão de direitos humanos da ALMG e na corregedoria da PM para apurar as violações aos direitos humanos ocorridos durante a greve. 

    Contatos Imprensa:
    Valério Vieira (presidente do sindicato): (31) 84757936
    João Pedro (assessor do sindicato): (31) 93566493
    Efraim Moura (assessor do sindicato): (31) 98184037
    Jerônimo Castro (advogado do sindicato) (31) 83368979